16 de novembro de 2009

Décimo Terceiro Papel

Dor é amor que não se sente.
É!
É ausência de si mesmo
Quando meu é deixa de ser.

Amor é dor inconseqüente
É!
Conjugo verbos de minha perda
E deixo as mágoas me guiarem.

Amor é simplesmente amor
Se você já tem um, ou dois
Esqueça as dores que arderem
Quando sozinho estiver.

Carlos Augusto, Anderson Ferreira e Octavio Peral

5 de novembro de 2009

Décimo Segundo Papel

Era ontem, hoje e amanhã
Na janela de um quarto pagão
Tornando teu recomeço
Um pedaço de fé esfarrapado no chão.

Salve as noites imorais.
Salve?
Sim. Salve-as do anonimato, da solidão
Salve-as da ausência de um amanhã.

Retorna, então, em vida
Nas carícias ardentes do amor
Pra largar-me a mão liberta
Se, de dia, acordar em ti.

Octavio Peral, Anderson Ferreira e Carlos Augusto

3 de outubro de 2009

Décimo Primeiro Papel

Já é tarde pra sambar
Desde que meu arlequim não seja farisaico
E que as pulsações do surdo não se apaguem
Tombarei-me às ações do amargurado.

Sentei ao meio fio, escutando o fim
Desolado no parapeito da partida
E no bloco das vitórias me distei
Fazendo da última batida meu acorde principal.

E aquela simples e colorida serpentina
Descansou no trono inconseqüente
Ordenando o adormecer dos confetes
Que, em certa época, sufocaram minhas noites de carnaval.

Anderson Ferreira, Carlos Augusto e Octavio Peral

29 de maio de 2009

Décimo Papel

Entre os espaçados tijolos
Vi o cinza de uma liga sentimental
E, entre buracos no muro, o desespero
Abalado por partidas inacabadas.

Inconseqüente, o som, veio na forma de código
Esquentando meu ouvido com segredos decifráveis
Distoando do sossego que outrora visitei
Trazendo-me a insegurança infantil.

E neste concerto dos desapegados
Tratei de apagar os afins passageiros
Aparafusei meus presságios no quadro da realidade
Tirando a tinta da parede do meu sonho.

Anderson Ferreira, Octavio Peral e Carlos Augusto

28 de maio de 2009

Nono Papel

Uma feira comum e de doce normalidade.
Se estranhavam os iguais
Embalados pelas finitas variâncias
Das frutas e legumes ali expostos e oferecidos.

Quando os olhos sossegavam
Apoiavam-se no sustento familiar
E divertiam-se com pedaços espalhados
Matando quem os matava.

Nas cascas, nos caules, o cruel desabrocha
E mostra aos fregueses observadores
Que como o desespero mora ali
Cegar-se do fatal é enfim o natural.

Octavio Peral, Carlos Augusto e Anderson Ferreira

8 de maio de 2009

Oitavo Papel

Vejo-lhe sem direção
Visão maqueada pelo sono.
Na galeria, vi-o passar indiferente
Talvez pensando no que falei.

Tratei de expor-me em delírios
E através de cacos, vi
Que ele, sem medo de errar, esqueceu
Um torpe passado pareado ao meu.

Fatigada e entregue, deixo-lhe o pesar
Do meu triste fim
Envolta em buquês e lágrimas
Nem me importo mais; embora contigo irei.

Carlos Augusto, Anderson Ferreira e Octavio Peral

7 de maio de 2009

Sétimo Papel

Minha memória fraca
Comovida e comovente
Trouxe embrulhada em lágrimas
A data que esqueci.

Imundos fatos e tratos
Em tons de cinza e sem foco
Faz eu não relembrar e chorar.
Possíveis cascatas se visitasse o passado.

Na tentativa de sombrear o incomum
Fiz apagar o que não lembrei.
Verdade envolta nas manchetes
E em letras garrafais, apagou-se o arquivo.

Carlos Augusto, Anderson Ferreira e Octavio Peral

1 de maio de 2009

Sexto Papel

Nos borrões da face estada a alegria
Dentre malabarismos, o sorriso surgia
Indo com os malabares, olhos de tensão
Por sob a lona, episódios ditosos.

Sentado, o público está apreensivo
Interessado no erro e na desgraça
Buscando um cinismo no ato rodado
Sem medo do tombo inesperado.

E a jovial alma do palhaço
Navega em mente espectante
E ele com sua tinta triste
Continua, sem recompensa, atrás d'um riso.

Anderson Ferreira, Carlos Augusto e Octavio Peral

23 de abril de 2009

Quinto Papel

O solitário opcional desceu a noite
Tornou das trevas seus afinos temporais
Deu a elas suas coragem entre vergonhas
E como vantagem, garantiu sua humilde estadia.

Sentado à beira dos reseses imorais
Serve de consolo a quem passa triste
Em devaneio privado, lava conselhos com água da fala
Tal fala é trêmula, indecisa como o incerto.

Já sem voz como guia do escuro
Se entregou ao convívio sem claridade
Por sobre lascas de virtudes caqueadas
No lugar sem luz sob o céu sem estrelas.

Octavio Peral, Anderson Ferreira e Carlos Augusto

16 de abril de 2009

Quarto Papel

Se tiver que cair em raiva
Conserve-a em pura solidão
Na dita ira, tão revoltosa
Faz-se o alívio, sem compaixão.

No escuro fim, adormece o maremoto
Por vezes fruto dum pretérito infeliz
Que se empalicede em minha foto
Tornando-se memória, por um triz.

Detrás, revela-se a indiferença
Derivada desse sentimento sem freio
Que resolveu estacionar no íntimo
E manchar de rubro o cândido seio.

Carlos Augusto, Octavio Peral e Anderson Ferreira

Terceiro Papel

Balburdia dançante que embala ideais
Lembrou-me do ritmo descompassado
Da marcação dos passos
Estrelatos de um complexo vivente.

À posse, candidatou-se o improvável
Corrupto provável, chega como óbvio
Situa-se em atlas sentidos, pensados
Por um plebeu que determina o seu destino.

Sentado sobre incertezas, medo
Às margens do instinto antagônico
Fez-se a troca do penar
Pelo caminho certo; pra não desviar.

Anderson Ferreira, Octavio Peral e Carlos Augusto

9 de abril de 2009

Segundo Papel

Exposta sem casca, segue a aversão
A insegurança se mostra
O distoar soa como fobia
Desmoronando as chances de conexão pessoal.

Terá de abrir os olhos
Entreabertos estão a novos horizontes
Estranhamente enrolado nos panos da excclusão
O inalcansável alcansável não está longe.

Infiltrado na mente insensata
Vive a possível displicência
Mistura perigosa:
Um conceito espesso e sufocante.

Octavio Peral, Carlos Augusto e Anderson Ferreira

Primeiro Papel

Tê-lo em meus olhos me faz pensar
Nos tempos em que o desejo foi soberano
Na vida impura, marcada por fatos amantes
Quando delicado era o toque e forte, o arrepio.

Simples e inconsciente, mergulhei num mar sem fim
E no traçado desbotado pairaram nódoas romancistas
E este, que é digno de ser escrito por dedos tristes
É umedecido pelos olhos, por tempos, inquietos e vazios.

Quão sofrível era o evasivo olhar tristonho
Como de ressaca, tal Capitu, me puxava
Me fazia perceber a ganância desenhada em minha vista
Ao perder o rumo, navegando em seu feminino olhar.

Carlos Augusto, Octavio Peral e Anderson Ferreira

7 de abril de 2009

Papel Zero

Criado a partir do imaginário de Anderson Ferreira, Carlos Augusto e Octavio Peral, o Três no Papel representa uma nova maneira de produção literária. Consiste na fusão de três distintos ângulos sobre um tema específico, sempre com poemas de três estrofes compostas por quatro versos. Cada um dos versos é escrito por um dos autores do poema; de modo que estrofes diferentes sejam iniciadas e terminadas com versos de um mesmo autor, tendo esse, um controle maior do que pretende expor naquela parte do poema. É válido destacar que cada colaborador não deve, necessariamente, dar continuidade ao descrito por seu anterior, haja visto que indivíduos diferentes nem sempre refletem sobre determinado assunto de maneira correspondente. Em síntese, o Três no Papel é apenas uma forma de expor suas idéias a partir das alheias, resultando em uma rede pensante, onde interpretação e produção caminham unidas.