23 de abril de 2009

Quinto Papel

O solitário opcional desceu a noite
Tornou das trevas seus afinos temporais
Deu a elas suas coragem entre vergonhas
E como vantagem, garantiu sua humilde estadia.

Sentado à beira dos reseses imorais
Serve de consolo a quem passa triste
Em devaneio privado, lava conselhos com água da fala
Tal fala é trêmula, indecisa como o incerto.

Já sem voz como guia do escuro
Se entregou ao convívio sem claridade
Por sobre lascas de virtudes caqueadas
No lugar sem luz sob o céu sem estrelas.

Octavio Peral, Anderson Ferreira e Carlos Augusto

16 de abril de 2009

Quarto Papel

Se tiver que cair em raiva
Conserve-a em pura solidão
Na dita ira, tão revoltosa
Faz-se o alívio, sem compaixão.

No escuro fim, adormece o maremoto
Por vezes fruto dum pretérito infeliz
Que se empalicede em minha foto
Tornando-se memória, por um triz.

Detrás, revela-se a indiferença
Derivada desse sentimento sem freio
Que resolveu estacionar no íntimo
E manchar de rubro o cândido seio.

Carlos Augusto, Octavio Peral e Anderson Ferreira

Terceiro Papel

Balburdia dançante que embala ideais
Lembrou-me do ritmo descompassado
Da marcação dos passos
Estrelatos de um complexo vivente.

À posse, candidatou-se o improvável
Corrupto provável, chega como óbvio
Situa-se em atlas sentidos, pensados
Por um plebeu que determina o seu destino.

Sentado sobre incertezas, medo
Às margens do instinto antagônico
Fez-se a troca do penar
Pelo caminho certo; pra não desviar.

Anderson Ferreira, Octavio Peral e Carlos Augusto

9 de abril de 2009

Segundo Papel

Exposta sem casca, segue a aversão
A insegurança se mostra
O distoar soa como fobia
Desmoronando as chances de conexão pessoal.

Terá de abrir os olhos
Entreabertos estão a novos horizontes
Estranhamente enrolado nos panos da excclusão
O inalcansável alcansável não está longe.

Infiltrado na mente insensata
Vive a possível displicência
Mistura perigosa:
Um conceito espesso e sufocante.

Octavio Peral, Carlos Augusto e Anderson Ferreira

Primeiro Papel

Tê-lo em meus olhos me faz pensar
Nos tempos em que o desejo foi soberano
Na vida impura, marcada por fatos amantes
Quando delicado era o toque e forte, o arrepio.

Simples e inconsciente, mergulhei num mar sem fim
E no traçado desbotado pairaram nódoas romancistas
E este, que é digno de ser escrito por dedos tristes
É umedecido pelos olhos, por tempos, inquietos e vazios.

Quão sofrível era o evasivo olhar tristonho
Como de ressaca, tal Capitu, me puxava
Me fazia perceber a ganância desenhada em minha vista
Ao perder o rumo, navegando em seu feminino olhar.

Carlos Augusto, Octavio Peral e Anderson Ferreira

7 de abril de 2009

Papel Zero

Criado a partir do imaginário de Anderson Ferreira, Carlos Augusto e Octavio Peral, o Três no Papel representa uma nova maneira de produção literária. Consiste na fusão de três distintos ângulos sobre um tema específico, sempre com poemas de três estrofes compostas por quatro versos. Cada um dos versos é escrito por um dos autores do poema; de modo que estrofes diferentes sejam iniciadas e terminadas com versos de um mesmo autor, tendo esse, um controle maior do que pretende expor naquela parte do poema. É válido destacar que cada colaborador não deve, necessariamente, dar continuidade ao descrito por seu anterior, haja visto que indivíduos diferentes nem sempre refletem sobre determinado assunto de maneira correspondente. Em síntese, o Três no Papel é apenas uma forma de expor suas idéias a partir das alheias, resultando em uma rede pensante, onde interpretação e produção caminham unidas.